Custo de disponibilidade na baixa tensão: guia completo para o consumidor

Mesmo sem consumir quase nada, todo cliente do Grupo B paga um valor mínimo na conta de luz. Esse é o custo de disponibilidade: 30, 50 ou 100 kWh conforme o tipo de ligação. Veja como ele aparece na fatura, quando pesa mais e quais caminhos existem para reduzir seu impacto.

O custo de disponibilidade é o valor mínimo cobrado de toda unidade consumidora do Grupo B, mesmo com consumo baixo ou zero.
Valores mínimos por padrão de ligação: 30 kWh (monofásico/bi a 2 condutores), 50 kWh (bi a 3 condutores) e 100 kWh (trifásico).
Ele é calculado como kWh mínimos × tarifa aplicável (TUSD+TE), e pode aparecer como ajuste quando o consumo/compensação fica abaixo do mínimo.
Bandeiras tarifárias também incidem quando a fatura é pelo mínimo e, para GD, não incidem sobre a energia compensada (mas incidem sobre o que for faturado).
Na Tarifa Branca, o piso continua valendo: a economia depende de deslocar consumo para fora de ponta e superar o mínimo mensal.
Com Tarifa Social: gratuidade de 80 kWh/mês cobre o mínimo para mono/bifásico; em trifásico (100 kWh) pode haver diferença entre 80 e 100 kWh.
Casos em que pesa mais: imóveis esporádicos, salas vazias e padrões trifásicos sem necessidade técnica.
Como mitigar: avaliar redução do padrão de ligação, desligamento temporário/definitivo da unidade em longos períodos sem uso e simular Tarifa Branca.

Entenda o custo de disponibilidade na conta de luz

Quando você abre a fatura de energia, pode aparecer uma cobrança mesmo nos meses em que quase não usou nenhum eletrodoméstico. Essa cobrança é chamada custo de disponibilidade e é um valor mínimo que as distribuidoras podem cobrar de todo consumidor conectado na baixa tensão.

Ele existe para remunerar a infraestrutura que precisa estar sempre pronta para levar eletricidade até a sua casa ou comércio.

Este guia explica em detalhes: o que é esse custo, por que ele existe, quando ele aparece, como ele se relaciona com outras modalidades tarifárias e como o consumidor pode lidar com essa cobrança.

Por que existe um valor mínimo?

Imagine que a rede de distribuição funciona como uma estrada. Mesmo que você não passe por ela, é necessário manter o asfalto, os postes e os transformadores em boas condições para quando você precisar.

O custo de disponibilidade é como uma “mensalidade” para manter a rede pronta para você usar.

Ele faz parte das regras do grupo B de consumidores (baixa tensão) e é cobrado quando o consumo registrado no mês fica muito baixo ou é zero.

A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) define que esse valor mínimo existe porque a distribuidora arca com custos de atendimento, medição, leitura e manutenção, independentemente de quanto o cliente consome.

Regra oficial e valores segundo a ANEEL

A ANEEL estabeleceu, na Resolução Normativa ANEEL nº 414/2010 (art. 98), os valores mínimos que as distribuidoras podem cobrar pelo custo de disponibilidade. Esses valores dependem do padrão de ligação (quantidade de fios que chegam à sua unidade):

  • 30 kWh por mês para instalações monofásicas ou bifásicas com dois condutores;
  • 50 kWh por mês para instalações bifásicas com três condutores;
  • 100 kWh por mês para instalações trifásicas.

Isso significa que, se o seu consumo mensal for menor do que esses patamares, a distribuidora vai faturar como se você tivesse consumido esses kilowatts-hora mínimos.

Por exemplo, uma residência monofásica que usou apenas 10 kWh no mês pagará a conta como se tivesse consumido 30 kWh, multiplicando-se esse valor pela tarifa de luz da região.

Outro ponto importante é que a Resolução Normativa ANEEL nº 1000/2021 determina que a distribuidora deve informar ao consumidor, ao aderir a modalidades especiais como a tarifa branca, que o faturamento nunca será inferior ao custo de disponibilidade.

Se o período de faturamento for inferior a 27 dias, essa cobrança mínima é proporcional ao número de dias. A mesma norma também obriga a distribuidora a avisar os consumidores caso o consumo esteja abaixo do mínimo após a mudança de modalidade.

Bandeiras tarifárias e o custo de disponibilidade

Muita gente acha que, pagando apenas o mínimo, não teria de se preocupar com as bandeiras tarifárias. Mas as regras de bandeiras são aplicadas sobre a energia ativa faturada, inclusive quando se paga o custo de disponibilidade.

A Resolução Normativa ANEEL nº 687/2015 determina que a cobrança de bandeiras incide sobre o consumo de energia a ser faturado.

Isso quer dizer que, se no mês estiver em vigor a bandeira amarela ou vermelha, o valor adicional por kWh será cobrado sobre os 30, 50 ou 100 kWh equivalentes do custo de disponibilidade.

Se você ainda não conhece as regras de acréscimo, vale revisar o guia de bandeiras tarifárias.

Como o custo mínimo se aplica em diferentes situações

Além do padrão de ligação, outras características do seu contrato de fornecimento podem afetar como o custo de disponibilidade aparece na fatura. Veja alguns casos comuns:

Tarifa branca

A tarifa branca é uma modalidade em que o preço do kWh varia conforme o horário: existe um valor de ponta (quando a rede está mais carregada), um valor intermediário e um valor fora de ponta (mais barato).

Essa opção incentiva o consumidor a deslocar o consumo para horários de menor demanda. Porém, optar pela tarifa branca não elimina o custo de disponibilidade.

Portanto, a tarifa branca só compensa para quem consegue deslocar consumo suficiente acima do mínimo para horários fora de ponta, reduzindo o valor final.

Geração distribuída (energia solar)

Consumidores com painéis solares conectados à rede participam do SCEE. Nessa modalidade, a energia gerada é injetada na rede e vira créditos para abater a energia consumida.

Contudo, a norma que regula a geração distribuída (Resolução Normativa 687/2015) é clara: a fatura deve cobrar pelo menos o custo de disponibilidade ou a demanda contratada.

Além disso, os créditos de energia não podem ser usados para reduzir esse valor mínimo. Mesmo que os créditos sejam suficientes para zerar o consumo líquido, o consumidor com geração própria terá de pagar ao menos o valor equivalente a 30, 50 ou 100 kWh multiplicado pela tarifa local.

Portanto, a energia solar ajuda a diminuir a parte variável da conta, mas não elimina o custo de disponibilidade. E, como vimos, as bandeiras tarifárias se aplicam sobre esse mínimo, pois ele é considerado consumo faturado.

Tarifa social de energia elétrica (TSEE)

Para famílias de baixa renda inscritas no Cadastro Único ou beneficiárias do Benefício de Prestação Continuada (BPC), existe a Tarifa Social de Energia Elétrica. Desde 2025, os primeiros 80 kWh por mês são gratuitos para essas famílias.

A ANEEL explica na nota sobre a gratuidade de 80 kWh para a Tarifa Social que, para unidades trifásicas atendidas pela tarifa social, o custo de disponibilidade, normalmente de 100 kWh, é reduzido a 80 kWh, de modo que a gratuidade cobrirá essa parcela.

Na prática, se uma família consumidora trifásica usar entre 80 e 100 kWh, pagará apenas pela diferença (consumo – 80 kWh). Para unidades monofásicas ou bifásicas, como o mínimo é 30 ou 50 kWh, a gratuidade de 80 kWh cobre todo o custo de disponibilidade enquanto o consumo permanecer dentro do limite. Assim, muitas famílias de baixa renda deixam de pagar o mínimo em meses de consumo baixo.

Para entender como se cadastrar e manter o benefício, consulte o guia sobre a Tarifa Social de Energia Elétrica.

Consumidores rurais e irrigação

Os consumidores rurais e de irrigação têm tarifas diferenciadas, com descontos em determinados horários de uso (como a tarifa de irrigação noturna). Porém, essas modalidades também estão no grupo B e, portanto, o custo de disponibilidade se aplica.

Mesmo que o produtor rural concentre seu consumo no horário reservado para obter descontos, se o total mensal ficar abaixo dos 30, 50 ou 100 kWh devidos, a cobrança mínima será feita.

Em geral, a tarifa branca ou horários especiais só compensa se o uso típico superar esse mínimo e puder ser deslocado para períodos de preço menor.

Quando o custo de disponibilidade pesa mais

Em certas situações, o custo de disponibilidade pode representar grande parte da fatura ou até o valor inteiro. Alguns exemplos:

Imóveis de uso esporádico

Casas de veraneio, sítios ou salas comerciais vazias costumam registrar consumo muito baixo. Como a cobrança mínima continua, a conta se mantém mesmo sem uso de energia.

Instalações superdimensionadas

Uma ligação trifásica (100 kWh) pode ser desnecessária. Reduzir para monofásico (30 kWh) diminui o valor mínimo. A distribuidora avalia a carga instalada antes de autorizar.

Clientes com energia solar

Nos meses de inverno ou férias, o consumo é compensado por créditos, mas o custo mínimo permanece, já que créditos não podem abatê-lo (ANEEL Res. 687/2015).

Locais desconectados por períodos longos

Se o imóvel ficar fechado por meses, pode ser útil pedir desligamento definitivo. A cobrança mínima para, mas haverá custo de religação quando reconectar.

Quando perceber que o valor mínimo está pesando no orçamento, vale revisar os reajustes tarifários mais recentes para entender como eles se somam ao custo de disponibilidade.

Guia prático para o consumidor

Para entender se o custo de disponibilidade está certo e o que fazer em cada situação, siga este passo a passo:

  1. Descubra o seu padrão de ligação. Consulte sua fatura ou um eletricista para saber se sua ligação é monofásica, bifásica ou trifásica. Isso define qual é o mínimo (30, 50 ou 100 kWh).
  2. Verifique o consumo do mês. Compare o consumo registrado no seu medidor com o mínimo. Se for maior, a cobrança será baseada no valor real; se for menor, será aplicado o custo de disponibilidade.
  3. Calcule o valor mínimo. Multiplique o número de kWh mínimo pela tarifa de energia.
  4. Avalie se a modalidade contratada é adequada. Se você tem uma ligação trifásica mas utiliza poucos aparelhos elétricos, considere pedir a redução para monofásica ou bifásica. Quem tem tarifas especiais (rural, irrigação ou tarifa branca) deve verificar se o consumo típico é suficiente para superar o mínimo em horários mais baratos.
  5. Para quem tem geração distribuída: lembre-se de que seus créditos solares não eliminam o custo de disponibilidade. Dimensione seu sistema considerando que sempre haverá um valor mínimo na fatura.
  6. Com Tarifa Social: confirme se você está inscrito no CadÚnico e se beneficia da gratuidade de até 80 kWh. Para instalações trifásicas, o custo mínimo cai de 100 kWh para 80 kWh.
  7. Simule o impacto das bandeiras. Acompanhe os comunicados da ANEEL sobre a cor da bandeira do mês e calcule quanto ela adiciona ao custo mínimo.
  8. Considere desligar a unidade se não for usar por muito tempo. Para imóveis desocupados, solicitar o desligamento encerra a cobrança. Ao retornar, será necessário pedir a religação e pagar as taxas correspondentes.

Conclusão

O custo de disponibilidade é uma regra que garante que a rede de distribuição esteja sempre pronta para atender os consumidores, mesmo quando o uso é baixo.

Ele existe para remunerar custos fixos de operação e manutenção e está fixado em valores de 30, 50 ou 100 kWh dependendo do tipo de ligação.

Para o consumidor comum, isso significa que a fatura nunca será zero enquanto a unidade estiver conectada à rede, salvo nos casos de Tarifa Social que cobrem esse mínimo.

Se o custo mínimo parece alto para o seu perfil de uso, considere reduzir o padrão de ligação, otimizar horários de consumo, aproveitar a tarifa social ou, em última instância, suspender temporariamente o fornecimento.

🔗 Ainda tem dúvidas sobre a conta de luz? Acesse o Guia 2025 da conta de luz: como entender as variações na fatura para ter mais detalhes sobre para onde vai o seu dinheiro.

FAQ – perguntas rápidas do consumidor

É o valor mínimo que a distribuidora cobra para manter a rede pronta. Ele aparece quando o consumo no mês fica abaixo do mínimo da sua ligação (30, 50 ou 100 kWh). As bandeiras também incidem sobre esse mínimo.

Veja na fatura o campo “Tipo de ligação”. Monofásico: 30 kWh; bifásico: 50 kWh; trifásico: 100 kWh. Se o ciclo tiver menos de 27 dias, o mínimo é proporcional.

Compare seu consumo do mês com o mínimo da sua ligação. Se for menor, calcule: mínimo (kWh) × (TE + TUSD) + impostos + bandeira. Se for maior, a base é o consumo real. Divergência? Abra chamado na distribuidora com foto do medidor.

Peça avaliação para trocar de trifásico para monofásico se sua carga permitir. Evite deixar imóvel “semi-ocupado”: concentre uso em poucos dias para superar o mínimo. Vai ficar meses sem usar? Considere desligamento temporário.

Sim, créditos solares não abatêm o mínimo. Na Tarifa Social, até 80 kWh/mês podem ser grátis; em ligação trifásica, o mínimo cai para 80 kWh. Verifique CadÚnico e se a TSEE aparece na fatura.